AVC - IDENTIFIQUE OS SINTOMAS MAIS COMUNS
Se algum familiar seu, que você tanto ama, começar a passar mal. Será que você saberia identificar se ele está tendo um AVC? Nesse artigo irei explicar os sintomas de um AVC que você deve ficar de olho para identificar e saber o que fazer (e o que não fazer) para ajudar um familiar diante dessa situação.
O primeiro sintoma que eu quero conversar com vocês é a dor de cabeça. Existe um tipo específico de derrame, isto é um tipo específico de AVC hemorrágico, que é o aneurisma cerebral roto (ou aneurisma cerebral rompido) na qual o principal sintoma é a dor de cabeça.
Não existe aneurisma cerebral rompido sem dor de cabeça. E como é essa dor de cabeça? É a pior dor de cabeça da vida! Algumas pessoas me perguntam, mas Doutor eu tenho muita dor de cabeça, eu vivo com dor de cabeça, eu não sei quem veio primeiro eu ou a dor de cabeça, como vou saber se um aneurisma explodiu na minha cabeça? Eu respondo: você vai saber! Será uma dor completamente diferente de todas as dores que você costuma ter.
Por isso, aqui fica primeira orientação: qualquer dor de cabeça que se apresente com padrão diferente da sua dor usual (dor mais forte, uma dor que não passou com as medicações que geralmente interrompia a dor, ou uma dor com mais algum outro sintoma como alteração de visão, por exemplo), PROCURE UM PRONTO SOCORRO. Eu vou repetir, nesses casos, não agente uma consulta, você deve ir direto ao pronto socorro de um hospital.
Agora, eu quero aproveitar o gancho para justamente desmistificar a associação de dor de cabeça com o AVC. O aneurisma cerebral rompido é apenas uma minoria dos casos de AVC. Existem estudos que demonstram que apenas 10% dos AVC cursam com dor de cabeça.
Esse conhecimento é muito importante, pois muitas vezes, as pessoas não associam um sintoma - como a diminuição da força, por exemplo - com um AVC simplesmente pelo fato de o paciente não estar sentindo dor de cabeça. “Eu estou meio estranho, meu braço está um pouco mais fraco, mas não deve ser nada, não estou sentindo nada na minha cabeça”.
Esse é um erro que eu não quero que ninguém, NINGUÉM, a partir de agora, jamais cometa. NÃO ESPERE TER DOR DE CABEÇA OU SENTIR ALGUMA COISA NA CABEÇA PARA PENSAR EM AVC!
Se a dor de cabeça não é um sintoma obrigatório, então a quais sintomas você deve estar atento? Vamos lá, eu vou falar então as alterações mais comuns no AVC, que interferem diretamente na visão, fala, força e equilíbrio.
Qualquer alteração visual deve ser considerada, como: visão borrada, visão dupla, perda da visão. Muitas pessoas pensam que é óbvio que a perda da visão é relacionada com AVC, mas na prática não é tão simples assim.
Muito idosos, principalmente, são resistentes em contar o que estão sentindo e as vezes você só percebe que houve alguma coisa quando observa o familiar trombando em alguma coisa enquanto anda. Por isso, incentive os seus familiares a relatarem toda e qualquer alteração de visão.
Outra situação muito corriqueira, é o fato de o paciente perceber uma perda da visão de um olho e logo em seguida - após alguns segundos ou poucos minutos - a visão voltar e - justamente pelo fato de haver melhorado – acaba não associado ao AVC e não procurando assistência médica.
Porém, a perda temporária da visão é um grande indício de que algo está errado e preste a se repetir, podendo ser com a perda da visão definitiva ou outros sintomas como uma paralisia. Nós chamamos a perda da visão seguida de recuperação de “amaurose fugaz” e esse é um grande alarme de eminência para novo AVC. FIQUE DE OLHO. Fique de olho na visão. Pegou essa? Então vamos para próximo sintoma.
Pacientes que apresentam AVC podem manifestar exclusivamente alteração na linguagem. E linguagem não é somente a capacidade de falar algo, mas também todo processamento da fala.
O distúrbio de fala, chamada de afasia, possui dois tipos: afasia de broca (ou afasia motora), na qual o paciente entende tudo o que dizemos, mas não consegue emitir a fala; e afasia de Wernick (ou afasia sensitiva), na qual o paciente consegue falar, mas não a capacidade de interpretar o que escuta e nem de processar uma resposta coerente ao que está ouvindo, acaba falando nada com nada. Esse distúrbio de fala deve ser valorizado mesmo na ausência de outras alterações.
Essa é de longe o sintoma mais comum de se perceber. Mesmo assim, algumas pessoas são resistentes quando a perda de força é pequena. A perda de força é geralmente associada com alteração da sensibilidade e isso pode gerar uma sensação de formigamento ou de mal-estar específico no braço. O paciente acaba associando a perda de força a um mal jeito, ou cansaço.
Então entenda que quem tem um AVC não precisa necessariamente paralisar os membros completamente. Pode ser uma perda de força discreta, ou mesmo em um membro específico, como exclusivamente na mão. Na dúvida, se houve alteração da força, por menor que seja, não deixe de procurar um pronto atendimento.
Por fim, a alteração de equilíbrio. Geralmente a alteração de equilíbrio vem associada com náuseas e vômito. Alguns pacientes, que conseguem andar na avaliação, apresentam uma perda de equilíbrio tão importante que desenvolvem uma marcha que costumamos chamar de marcha ebriosa (o termo “briosa” vem de ébrio que se refere ao alcoolismo ou embriaguez), pois o paciente anda cambaleando.
E preste muita atenção, pois em algumas situações especificas, podemos ter alteração do equilíbrio sem perda de força. Então, não espere o paciente ter perda de força ou qualquer outro sintoma para associar a alteração de equilíbrio ao AVC.
Ok, falamos basicamente tudo que uma pessoa pode apresentar durante um AVC, mas e agora? O que fazer? Antes de tudo, gostaria de ressaltar o que não fazer:
- Não dê nenhuma medicação em casa, pois dependendo do tipo de AVC pode piorar a situação;
- Não fure os dedos do paciente. Alguns anos atrás foi divulgado um vídeo fake news orientando que na suspeita de AVC deveriam furar os dedos dos pacientes para aliviar a pressão. Isso além de não ajudar em nada, ainda posterga o encaminhamento do paciente ao pronto socorro.
- Não espere para ver se o mal-estar ou o sintoma vai passar, para depois procurar ajuda. Se for um AVC, quanto mais rápido chegar no hospital, maiores as chances de tratamento e recuperação.
Agora vamos entender o que fazer. Diante de qualquer alteração repentina, leve o paciente para um hospital o mais rápido possível. E que esse hospital seja equipado com tomografia e, de preferência, com ressonância magnética, além de uma equipe de neurologia.
Uma dica é você pesquisar na sua cidade um hospital que seja referência no atendimento de AVC para que assim, em qualquer eventual emergência, haja um atendimento com devida qualidade. Hoje eu atendo os meus pacientes com AVC na Santa Casa de Curitiba e no Hospital das Nações. Ambos possuem uma estrutura completa que faz toda diferença no atendimento do paciente.
Acredito que uma das coisas mais triste na vida é o arrependimento daquilo que nós poderíamos ter feito e não fizemos para aquelas pessoas que amamos, por isso, minha dica final é: qualquer alteração que aconteça, não espere, não perca tempo, vá para pronto socorro!
O conteúdo desse artigo também está no nosso canal do Youtube, em formato de vídeo, facilitando ainda mais o compartilhamento de conhecimentos. Quanto mais pessoas tiverem entendimento sobre o assunto, maior vai ser a conscientização da importância do tratamento precoce e preventivo.
As doenças cerebrovasculares são complexas e necessitam tanto de tratamento adequado quanto de prevenção. Portanto, agende uma consulta para garantir que tudo está bem ou, na pior das hipóteses, tratar o problema antes que aconteça algo pior. Nossa equipe fica a disposição para auxiliar você no cuidado do maestro do seu corpo: seu cérebro.