A DOR DE CABEÇA QUE PODE LEVAR À CEGUEIRA: CONHEÇA
A HIPERTENSÃO INTRACRANIANA IDIOPÁTICA
Laura, uma mulher 30 anos de idade, sempre foi muito produtiva, até que começou apresentar dores de cabeça. Inicialmente, uma dor leve que incomodava mas não chegava limitar suas atividades e, por isso, ela imaginava que fosse algo passageiro.
Porém, as dores não somente se mantiveram praticamente todos os dias, como aumentaram de intensidade e não se resolviam mais com a medicação de costume. Com passar do tempo, as dores passaram a influenciar no rendimento do trabalho. Então, procurou um clínico geral que lhe receitou uma medicação para enxaqueca, mas que não apresentou nenhuma melhora, ate que então decidiu procurar um especialista.
O neurologista avaliou, solicitou uma tomografia, que veio normal, e trocou sua medicação de enxaqueca. Apesar de aliviada por não ter demonstrado nenhuma alteração na tomografia, estava muito angustiada pois a medicação não fazia muito efeito e sua dor apenas piorava.
Dessa vez procurou outro especialista, que solicitou uma ressonância magnética na expectativa de encontrar alguma causa para dor de cabeça. Logo veio o resultado e junto a frustração: mais uma vez o exame deu normal. Sem saber exatamente a causa para sua dor, sempre recebendo o diagnóstico de enxaqueca e sem uma medicação que ajudasse efetivamente, Laura começou a perceber sua visão embaçada!
Agora, já desesperada, procurou um oftalmologista que realizou exame físico e identificou a presença de edema de papila (um sinal que demonstra que a pressão da cabeça esta aumentada), e o médico oftalmologista complementou dizendo: seu problema não está no olho, seu problema é neurológico!
Essa é a história clássica que acomete centenas de pessoas com Hipertensão Intracraniana Idiopática. Nesse texto vamos falar dessa dor de cabeça que pode causar cegueira e, inclusive, óbito; mas que muitos profissionais tem dificuldade para identificar e de tratar.
Na historia da Laura, foi possível perceber alguns sinais e sintomas relacionados à Hipertensão Intracraniana Idiopática, que são característicos da doença e envolve geralmente esses três fatores:
* Cefaleia;
* Náuseas, vômitos;
* Edema de papila.
A dor de cabeça é o sintoma mais frequente, podendo ocorrer diariamente, com intensidade variada – desde dores leves até dor incapacitante – e mais comum no período matinal. Juntamente com a cefaleia pode haver náuseas e vômitos associados.
Como consequência do aumento da pressão intracraniana, pode haver também o inchaço da papila, isto é, o edema de papila ocular. A papila óptica é um prolongamento do nervo óptico, responsável pela visão. O edema de papila causa borramento visual, visão dupla e diminuição da acuidade visual – inicialmente dos campos laterais e, nos casos mais avançados, até mesmo a perda completa da visão.
Além disso, outro sintoma frequentemente descrito pelas pessoas é o zumbido, que pode ocorrer em uma ou em ambas as orelhas. Muitos pacientes também referem amortecimento da face e crânio ou sensação de formigamento no rosto.
A Hipertensão Intracraniana Idiopática é uma doença rara, que acomete principalmente mulheres, jovens, com sobrepeso ou obesidade. Nessa população, a incidência chega a ser 20 vezes maior que na população geral. Por isso, toda mulher que possua dor de cabeça que não melhora deve se atentar para possibilidade de ser portadora desta doença. Existem casos raros descritos que não há dor de cabeça, apenas alteração visual. Por isso, em mulheres jovens com perda de visão, a Hipertensão Intracraniana Idiopática também é uma possibilidade diagnóstica.
Como esta doença é incomum e ainda pouco compreendida pela maioria dos profissionais, muitas vezes o diagnóstico costuma levar meses a anos. É fundamental buscar auxílio de um especialista que irá realizar uma avaliação acurada da história clínica buscando um possível agente causador, um exame físico minucioso para determinar a possibilidade da doença e que possui o conhecimento dos exames mais adequados para definição do diagnóstico da doença.
Agora, provavelmente, você deve estar se perguntando: “Como é feito o diagnóstico da Hipertensão Intracraniana Idiopática?”. Dois passos são fundamentais para o diagnóstico da doença:
- Passo 1: Um desses passos é a punção lombar com medição da pressão. Os casos com mais de 20 cmH20 costumam demonstrar hipertensão intracraniana. É importante ressaltar que a pressão aumentada de forma isolada, pode não ser necessariamente uma HII. A própria dor gerada durante a punção lombar pode ser uma causa para elevação da pressão intracraniana.
E você tem ideia como é feito a punção lombar com a aferição da pressão? É feita por um neurologista que introduz uma agulha fina no meio da coluna espinhal para chegar no espaço onde o liquor circula, e em seguida acopla a um um sistema que vai fazer a medição dessa pressão. Como a pressão no espaço subaracnóideo da coluna é o mesmo da pressão intracraniana, nós podemos determinar de forma indireta qual é o valor da pressão dentro do crânio. Esse procedimento nos chamamos de punção lombar com raquimanometria.
- Passo 2: O outro passo é a avaliação de imagem. Os exames de imagem servem para excluir outras doenças que possam causar hipertensão intracraniana e, também, para avaliar se existe alguma variação na drenagem das veias cerebrais que causem a Hipertensão Intracraniana Idiopática. É fundamental estudos adequados de ressonância magnética para um correto diagnóstico.
O tratamento depende da avaliação médica e dos resultados de exames de imagem. Nos casos leves, pode-se utilizar de medidas clínicas, como: a redução do peso se oportuno, a suspensão de medicação que possa eventualmente ser o agente causador da doença e, também, o uso de medicamentos que auxiliam na redução da pressão intracraniana, tais como o Diamox e Topiramato.
Nos casos nos quais se evidencia uma alteração na drenagem venosa com presença de estenose de seio, há possibilidade de tratamento cirúrgico minimamente invasivo pela técnica endovascular por meio do implante de stent no local acometido. Esse tratamento, nos casos específicos, tem ganhado cada vez mais importância por apresentar excelentes resultados.
O conteúdo desse artigo também está no nosso canal do Youtube, em formato de vídeo, facilitando ainda mais o compartilhamento de conhecimentos. Quanto mais pessoas tiverem entendimento sobre o assunto, maior vai ser a conscientização da importância do tratamento precoce e preventivo.
As doenças cerebrovasculares são complexas e necessitam tanto de tratamento adequado quanto de prevenção. Portanto, agende uma consulta para garantir que tudo está bem ou, na pior das hipóteses, tratar o problema antes que aconteça algo pior. Nossa equipe fica a disposição para auxiliar você no cuidado do maestro do seu corpo: seu cérebro.
1 Comments
Boa tarde, Dr! Gostaria de deixar aqui meu relato. Fui diagnosticada com hipertensão intracraniana idiopática em 2018 e para resumir a história, em 2020 coloquei um stent no SEIO SAGITAL SUPERIOR (nunca nem vi casos na literatura), onde havia a diferença de pressão. Minha PIC de 40 baixou para 17 (o que é considerado um sucesso, com certeza), porém tive como sequela um zumbido interminável 24h (antes pelo menos ele cessava em algum momento), o que não me possibilita dormir sem tomar remédios. Preciso me controlar para não enlouquecer ou ter que tomar antidepressivos. Acho que este tratamento “bagunça” bastante o fluxo sanguíneo. Além do zumbido, tenho a sensação de “cabeça cheia”. É MUITO difícil. Mas graças a Deus não tenho mais dores de cabeça ou episódios de vômito… Acompanho de perto o trabalho do Dr Athos Patsalides e também de alguns pacientes tratados com stent por ele, gostaria de dizer que é uma enorme pena a medicina não ter uma CURA efetiva para este problema que é GIGANTESCO na nossa vida. Esta alteração literalmente acaba conosco. Infelizmente nenhum tratamento é garantido, seja medicação, stent ou válvula. TUDO é uma tentativa. De qualquer forma, fico feliz com sua página bem completa sobre a doença, pois é muito difícil encontrar um profissional interessado em levar tanta informação e tentar trazer mais conforto para a vida do paciente.