FATORES DE RISCOS PARA O SURGIMENTO DE ANEURISMA CEREBRAL.
Sua grande capacidade de levar ao óbito ou de deixar graves sequelas, associado ao fato de nos pegar desprevenidos, fazem do aneurisma cerebral uma das doenças mais temidas do mundo. Mas, você sabe realmente o que é o aneurisma cerebral e quais são os fatores de risco para seu surgimento?
Uma maneira simples de entender como o aneurisma funciona é por meio de uma analogia, como se os vasos sanguíneos fossem parte do encanamento de uma residência. Assim como qualquer casa possui encanamentos para distribuição de água entre os diferentes cômodos, nosso corpo possui os vasos sanguíneos que são responsáveis pela distribuição de sangue para diferentes órgãos e sistemas. Nessa analogia, o cômodo protagonista da nossa residência corporal é, sem dúvida, a cabeça. As artérias seriam os encanamentos responsáveis por levar o sangue do coração para a cabeça, ao passo que as veias seriam os encanamentos que trariam o sangue da cabeça para o coração. Agora, imagine abrimos uma torneira, e acoplarmos a essa torneira uma bexiga, como um balão de aniversário. A bexiga encherá de água até que a pressão no seu interior seja tão grande ao ponto de estourar.
Pois bem, o aneurisma cerebral é exatamente como essa analogia, uma bexiga (nos termos científicos nos denominamos de dilatação sacular) presente no encanamento da casa (na parede de uma artéria do nosso corpo), em um cômodo específico (nossa cabeça).
Agora que você compreende com mais clareza o que são os aneurismas cerebrais, provavelmente pode estar se perguntando algo mais curioso ainda: por que o aneurisma cerebral surge?
O surgimento do aneurisma cerebral acontece por vários fatores, normalmente com uma associação entre fatores genéticos e fatores externos.
Quanto ao fator genético, os aneurismas podem ser classificados em dois tipos: (a) aneurismas esporádicos, que acometem pessoas sem história de doença nos familiares de primeiro grau e os (b) aneurismas com história familiar positiva, quando algum parente de primeiro grau já apresentou aneurisma cerebral.
Aproximadamente 90% dos casos são aneurismas esporádicos. Mas, independentemente se for do tipo esporádicos ou do tipo com história familiar positiva, uma grande variedade de genes e regiões cromossômicas tem sido associada aos aneurismas intracranianos. Muita calma nessa hora, que eu vou traduzir isso para você: existe uma influência genética associada ao surgimento do aneurisma cerebral, isto é, para sua formação é necessária uma pré-disposição genética.
Para você ter uma ideia, pacientes com familiares de primeiro grau que tiveram aneurisma, possuem o triplo de chance de também terem aneurisma cerebral e o dobro de chance de sangramento quando comparado a população sem familiares com a doença, demonstrando a associação genética na fisiopatologia dos aneurismas cerebrais.
Ainda sobre a influência genética, existem doenças e síndromes que estão fortemente associadas ao aneurisma cerebral, entre elas podemos citar: doença renal policística, síndrome de Ehlers-Danlos, displasia fibromuscular, anemia falciforme, malformação arteriovenosa cerebral e válvula cardíaca bicúspide.
Isso pode parecer muito chato à primeira vista, mas preste atenção, pois isso é crucial tanto para auxílio na tomada de decisão do médico, como fundamental para população se alertar sobre possiblidade de rastreio ativo nos casos em que se tem conhecimento de que algum ente querido foi afligido por um aneurisma cerebral, uma vez que essas pessoas possuem risco muito maior de possuir aneurisma cerebral e de sangramento.
Agora, falando dos fatores ambientais. Dentre os fatores ambientais ou externos, destacam-se o tabagismo, a hipertensão arterial sistêmica (que é a pressão alta), a ingesta abusiva de álcool, a aterosclerose, e drogas ilícitas como cocaína e maconha.
Quanto ao tabagismo, é um fator de risco para formação, crescimento, ruptura - pior prognóstico naqueles pacientes que sangram -, e aumento do retorno do aneurisma após ser tratado.
Uma pessoa que fuma possui uma chance 3x maior de apresentar hemorragia por aneurisma quando se comparado a uma pessoa que não fuma. Já uma pessoa que fuma e possui hipertensão arterial sistêmica, o risco de hemorragia por ruptura de aneurisma é 15x maior comparado a não hipertensos e não tabagistas.
Muitas vezes temos dificuldade em iniciar e manter hábitos de vida saudável por falta de motivação. E esses dados que mostramos é, sem dúvida, um grande incentivo e motivação para você parar de fumar! É um grande incentivo para quem não tem aneurisma e deseja continuar não tendo, para quem tem e não quer que ele se rompa e para aqueles que já trataram de aneurisma e não gostariam de que ele retornasse.
Curiosamente, você já ouviu falar de algum cachorro de estimação que tenha morrido de derrame devido um aneurisma cerebral? Ou ainda, já ouviu falar de alguma criança ou bebê que tenha falecido decorrente de uma hemorragia intracraniana proveniente de um aneurisma cerebral? Pois bem, a presença de aneurisma cerebral tanto em animais quanto em crianças é extremamente rara!
E por que isso acontece? Exatamente por causa da influência e a importância dos fatores externos sobre o surgimento dos aneurismas. Você nunca verá um bulldog francês fumando, ou ainda um bebê abusando na dose diária de álcool. Ainda que nesses exemplos, em que as crianças ou os pets possam deter algum grau de predisposição genética para surgimento do aneurisma, a ausência de exposição aos fatores de risco, como os citados anteriormente, faz com que a incidência dessa doença seja extremamente rara. Isso é não somente uma demonstração do quanto esses fatores de risco externos são fundamentais na gênese das doenças como, também, um grande incentivo a mudança de hábitos de vida e adoção de um estilo de vida saudável.
Apesar de complexo, o conhecimento da fisiopatologia desta doença é fundamental para tomada de decisão pelo médico, assim como posicionamento do paciente adotando o máximo de medidas para evitar o desenvolvimento ou, nos casos já diagnosticado, melhorar o prognóstico e reduzir as chances de recidiva da doença.
O conteúdo desse artigo também está no nosso canal do Youtube, em formato de vídeo, facilitando ainda mais o compartilhamento de conhecimentos. Quanto mais pessoas tiverem entendimento sobre o assunto, maior vai ser a conscientização sobre a importância do tratamento precoce e preventivo.
As doenças cerebrovasculares são complexas e necessitam tanto de tratamento adequado quanto de prevenção. Portanto, agende uma consulta para garantir que tudo está bem ou, na pior das hipóteses, tratar o problema antes que aconteça algo pior. Nossa equipe fica a disposição para auxiliar você no cuidado do maestro do seu corpo: seu cérebro.