TROMBOSE VENOSA CEREBRAL ASSOCIADA À VACINAÇÃO DA COVID-19.
Já ouviu falar sobre a TVC, ou trombose venosa cerebral? A doença andou sendo amplamente discutida por sua possível ligação com a vacina contra a COVID-19. Nesse blog irei comentar sobre essa associação da vacinação contra COVID-19 e casos de trombose venosa cerebral, assim como a definição da TVC e suas causas.
Inclusive, em julho de 2021, acompanhei uma paciente que foi internada com suspeita de evento adverso à vacinação.
Por isso, fique alerta para possibilidade de reconhecer os sintomas dessa doença em você, ou mesmo em algum familiar ou conhecido.
Antes de falar da associação da vacina com a TVC eu gostaria de trazer um panorama geral desta patologia.
Afinal de contas, o que seria a trombose venosa cerebral?
A TVC é um tipo raro de AVC que acomete usualmente mulheres em idade reprodutiva. Porém, ao invés da obstrução ocorrer no sistema responsável por distribuir sangue para o cérebro, isto é, o sistema arterial, a obstrução ocorre no sistema responsável por coletar sangue que foi enviado ao cérebro, portanto, uma obstrução no sistema venoso cerebral. E essa obstrução nós chamamos de trombose. Daí a nomenclatura: Trombose Venosa Cerebral. Um trombo que obstrui uma veia ou um seio venoso do cérebro. A título de curiosidade, seio venoso seria como uma veia muito grande que capta sangue venoso de veias menores.
A trombose venosa pode causar basicamente dois problemas: infarto venoso e o aumento da pressão do cérebro, isto é, hipertensão intracraniana.
A partir desses dois problemas o paciente pode apresentar: dor de cabeça, náuseas, vômitos, crise convulsiva e perda de força.
A maioria dos pacientes, em torno de 70-90%, apresenta apenas dor de cabeça como sintoma. A dor geralmente costuma piorar com passar dos dias, caracterizada por acometer todo o crânio, ou apenas a parte da frente (bifrontal) ou somente o meio do crânio (vértex). Essa dor no meio da cabeça é menos comum, mas quando acontece é algo muito sugestivo de trombose venosa cerebral.
A dor de cabeça é ainda descrita como latejante - igual a uma enxaqueca – porém, nas descrições de casos, os pacientes que possuem enxaqueca conseguem distinguir a dor usual da enxaqueca da dor da trombose venosa cerebral. Óbvio que eles não chegam dizendo, estou com trombose venosa cerebral, mas referem, “olha doutor, minha cabeça está latejando, mas é diferente do que geralmente costuma ser as minhas crises de enxaqueca.”
Outros sintomas são os déficits focais, associado à perda de força e alteração de fala. As paralisias ocorrem em metade dos pacientes com TVC, horas ou dias após o início da dor de cabeça. Geralmente a perna é mais afetada. E nos casos em que a TVC acomete o lado esquerdo, pode haver alteração na fala.
As crises convulsivas ocorrem em torno de 30% dos pacientes e dentro de uma semana após a trombose.
Além de tudo isso que citei, a trombose venosa cerebral pode causar rebaixamento do nível de consciência, coma e até óbito.
As causas são variadas e não convém abordar todas nesse texto, mas variam desde causas genéticas, infecciosas (aliás, no que diz respeito a causas infecciosas, o próprio vírus da COVID-19 pode causar a trombose venosa cerebral), neoplasias (isto é associado ao câncer), medicamentosa (que é a principal causa, sendo que os medicamentos mais associados a TVC são os anticoncepcionais) e, por fim, o motivo em voga deste texto, a vacina contra a COVID-19.
Apesar de raro, existe uma associação entre a vacina da AstraZeneca e da vacina da Janssen com o desenvolvimento da trombose venosa cerebral.
Até abril de 2021, tínhamos 169 casos de trombose venosa cerebral associados à vacina da AstraZenica e 6 casos associados à vacina da Janssen.
Talvez alguém possa dizer: “Mas se levarmos em consideração todos que foram vacinados, isso representa 1/100.000 e por isso não é relevante!”. Sim, a associação é muito baixa, mas e se essa associação aconteceu justamente com você? Se aconteceu com você, você é 100% dessa incidência mínima.
Mas calma, meu objetivo não é alarmar, até porque - no meu ponto de vista - o risco de não ser imunizado me parece muito maior do que o risco de desenvolver uma trombose venosa cerebral pela vacinação. Eu mesmo fui vacinado.
Okay, se não é alarmar, o que eu quero? Meu objetivo é te deixar ligado para qualquer dor de cabeça que não esteja passando ou que esteja piorando mesmo com uso das medicações. Quanto antes for realizado o diagnóstico, mais rápido é instituído o tratamento e maior chance de um bom desfecho.
1°- Como essa doença na maioria das vezes começa somente com uma dor de cabeça, o paciente passa várias vezes pelo ponto socorro e procura diversos médicos e não é propriamente diagnosticado até apresentar alguma complicação maior, como crise convulsiva e/ou rebaixamento do nível de consciência, para então ser levantada a possibilidade do diagnóstico de TVC.
Por isso, sempre que possível procure um especialista para que seja realizada uma avaliação especializada, excluindo qualquer possibilidade de doença grave associada a sua dor de cabeça. Vocês se lembram da paciente que eu comentei no começo do texto que estou acompanhando? Ela passou 3 vezes no pronto atendimento antes de ter seu diagnóstico estabelecido.
2° - Nos casos de trombose venosa cerebral associada à vacinação, o tratamento é completamente diferente da TVC não associada à vacinação. É preciso usar um tipo especial de anticoagulante - preferencialmente não heparínico - além de implementar uma terapia de plasmaférese ou pulso de imunoglobulina. A paciente que estou acompanhando já recebeu essas medicações é está melhorando. Gostaria inclusive de agradecer todo apoio que a equipe de epidemiologia da secretaria de saúde de Curitiba nos deu para auxílio para condução desse caso.
Quanto ao desfecho da trombose venosa cerebral de uma forma geral, em torno de 10% dos pacientes evoluem a óbito, ao passo que nos casos de TVC associada à vacinação, em torno da metade dos pacientes morre. Em 2% dos casos pode haver recidiva, daí a importância de se investigar adequadamente a causa da trombose venosa cerebral.
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As doenças cerebrovasculares são complexas e necessitam tanto de tratamento adequado quanto de prevenção. Portanto, agende uma consulta para garantir que tudo está bem ou, na pior das hipóteses, tratar o problema antes que aconteça algo pior. Nossa equipe fica a disposição para auxiliar você no cuidado do maestro do seu corpo: seu cérebro.